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segunda-feira, 28 de abril de 2014

DECADÊNCIA SOCIAL

   Cyril Northcote Parkinson (1909-1993) descreveu seis características da decadência social, seis estágios pelos quais passam as civilizações rumo a dissolução. Eis tais estágios, apresentados de modo muito resumido:


1. A crescente centralização política.

2. O crescimento imoderado da tributação, que se transforma no modo de interferência governamental no comércio, na indústria e na vida social. A tributação elevada sempre foi prelúdio de desastre.

3. Crescimento de um pesado sistema de administração central. Uma máquina que se move vagarosamente e em direções involuntárias.

4. A promoção das pessoas erradas. No labirinto da burocracia política, ter ideias originais seria uma barreira ao sucesso.

5. O ímpeto de esbanjar. Gastos públicos que serão pagos por uma geração futura.

6. O enfraquecimento da razão e da vontade de uma grande parte da população. 




Fonte: Russel Kirk. A Política da Prudência, p 263. Editora: É Realizações.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

quarta-feira, 16 de abril de 2014

VALOR E SIGNIFICADO: UMA PEQUENA CONFUSÃO

"Não é papel do indivíduo, preso na própria vaidade, determinar se prefere a justiça ou a injustiça; não é o seu papel decidir se a prudência ou a imprudência lhe agrada mais."


Ao ler as palavras de Russel Kirk sobre o deserto educacional que existe hoje, percebi nitidamente que desde criancinha fiz parte de uma escola denominada: escola positivista. Neste ambiente, destaca-se dentre muitas coisas, a preocupação em aprender técnicas, a excessiva preocupação com a socialização, e uma preocupação exagerada com os certificados, os títulos e diplomas.
Fui ensinado nesta perspectiva e acredito que grande parte de quem frequentou os bancos escolares nas décadas de oitenta também passou por este ambiente doutrinário.
Além disso, outra característica do ambiente escolar que frequentei era a indisciplina, hoje provavelmente está bem pior. A indisciplina que hoje é percebida no ambiente escolar, às vezes ultrapassa os limites das escolas indo parar nas delegacias, isto certamente indica alguma coisa e são muitas as opiniões por aí.
Como não adianta apenas opinar sobre um assunto sem antes tentar compreender o que acontece efetivamente, ou pelo menos, entender parte desta realidade, buscar o que os grandes estudiosos dizem pode ajudar.
Antes de ser uma mera desordem comportamental, a indisciplina caminha ao lado de uma desordem da linguagem no meio educacional.
O que tem a linguagem com toda essa estória? As artimanhas da linguagem são desvendadas por Russel Kirk, que inicialmente vai diferenciar duas palavras muito usadas na educação, “valores” e “significado”, estes termos atualmente são usados sem critério.
A transmissão de significado é uma coisa, a transmissão de valores é outra bem diferente. Dissimular o uso da palavra valor como sendo “norma”, “princípio”, “verdade” é um artifício dos doutrinários positivistas, que negam existir qualquer significado moral de caráter permanente e transcendente. Nos EUA o uso do termo “valores” educacionais foi inserido pela escola instrumentalista, que pretende substituir as pressuposições religiosas sobre a existência humana, que antes eram aceitas como verdadeiras nas escolas.
“Um valor, da forma como os pedagogos empregam o termo, é uma preferência pessoal, que gratifica talvez a pessoa que a ele adere, mas que não tem nenhum efeito moral obrigatório para as outras. ‘Desde que a quantidade de prazer permaneça igual, boliche é tão bom quanto poesia’ na famosa frase de Jeremy Bentham (1748-1832). Escolha os valores que quiser, ou ignore-os todos: é uma questão do que dá, ao indivíduo, o máximo prazer e a mínima dor.
Etiénne Gilson (1884-1978) nota que os positivistas promovem deliberadamente o conceito de ‘valores’ porque negam que as palavras, ou os conceitos por elas representados, tenham significado real. Portanto a palavra ‘honra’ poderá possuir algum valor para alguns, mas ser repelente para outros: na visão do positivista, a palavra ‘honra’ não tem sentido próprio, pois não existe honra, sem desonra: tudo é na verdade sensação física, agradável ou dolorosa. Se a ‘honra’ tem um valor ilusório, use-a; se não gostas de ‘honra’, descarte-a.
“Foi-se o tempo em que cada criança em idade escolar estava familiarizada como o catálogo das sete virtudes, teologais e cardeais, bem como os sete pecados capitais. Os positivistas e um bom número de outras pessoas negam, hoje, a existência desses sete pecados capitais, ou qualquer outro pecado. Quanto às virtudes – ora, gostaríamos de transformá-las em ‘preferências de valor’, sem imperativo moral algum para sustentá-las; mas a justiça, a fortaleza, a prudência e a temperança não são meramente ‘valores’; nem o são a fé, a esperança e a caridade. Não é papel do indivíduo, preso na própria vaidade, determinar se prefere a justiça ou a injustiça; não é o seu papel decidir se a prudência ou a imprudência lhe agrada mais. É verdade, o indivíduo pode assim decidir e agir, trazendo danos a outros e a si mesmo; mas é função da educação transmitir uma herança moral: ensinar que as virtudes e os vícios são reais, e que o indivíduo não está livre para brincar com os pecados conforme achar melhor.”
É muito evidente que Russel kirk define muito bem o assunto, e estas palavras certamente estão além de uma mera opinião, são frutos de estudos. E como estamos no país onde o diploma vale muito, é importante lembrar que Russel Kirk possuiu muitos, foi mestre em História pela Duke University e doutor em Letras pela University of St. Andrews na Escócia, também foi ao longo da vida agraciado com 12 doutorados honoris causa.


Fonte: Russel Kirk. A Política da Prudência, p 309. Editora: É Realizações.

sábado, 12 de abril de 2014

UM PEQUENO EXERCÍCIO


"Ter uma boa memória é uma grande consolação"


Atualmente a quantidade de recursos tecnológicos que armazenam e recuperam informações, aumentam a praticidade da vida diária, e podem até nos levar a minimizar a importância da nossa própria capacidade de memorização. No entanto, para certos indivíduos a memorização ainda é um elemento fundamental.
O breve relato sobre a memória feito pelo escritor George Steiner exemplifica bem: 

...tive a sorte de ter, toda a minha vida, uma memória fotográfica. No Liceu francês isso era treinado, tal como se treinam os músculos. Decorar, decorar. A isso devo tudo. Ainda hoje o faço. Há poucos dias em que não aprendo algo de cor. Treino a minha memória. Faz pouco tempo que sofri uma queda, quando fazia uma série de palestras na Escócia. Bati com a cabeça. Naquele momento de confusão, tentei dizer os 12 meses do calendário revolucionário francês, de forma correta. Quando vi que ainda era capaz, tentei uma lista de compositores mortos, e uma lista de compositores que mataram alguém. A minha memória estava boa e fiquei mais calmo. É um exemplo de consolação que um pequeno e simples exercício pode dar. Ter uma boa memória é uma grande consolação. Na minha profissão é um verdadeiro pesadelo quando a memória começa a falhar. Para quem se dedica a literatura e investigação é uma sentença de morte.”

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A RECLAMAÇÃO


Certa vez, um velho treinador irritado com o resultado do seu time, reuniu os seus jogadores e questionou:
“Pessoal como é que é?! O que tá acontecendo!?”
Ele estava à frente do time beisebol de uma escola americana (High School) por 30 anos.
Os últimos jogos foram péssimos. No time, uns prometeram perder alguns quilos, outros concordaram respeitar o horário de treino, todos prometeram mudar, mas passado um mês das promessas, além de nada ter modificado os resultados dos jogos continuavam negativos.
Desta vez, diante da advertência do técnico o grupo se esquivou, e o inesperado veio em seguida: uma enxurrada de reclamações dos pais destes alunos, seguida de uma forte pressão para que o diretor demitisse o treinador.
O curioso imbróglio ocorreu na mesma semana em que vitorioso treinador receberia uma homenagem dos ex-alunos, os veteranos construíram uma nova quadra esportiva, e esta receberia o seu nome. Uma homenagem dentre tantas que recebeu ao longo da carreira, durante trinta anos o treinador foi um símbolo de disciplina naquele colégio, mas nos últimos anos as coisas mudaram.
O episódio diz muita coisa, reflete em grande parte a transformação dos valores na sociedade, fenômeno observado nas últimas décadas (principalmente à partir da década de 1960). Mas este é só o início da história contada no livro, Treinador, do escritor Michael Lewis que também foi um dos ex-alunos do treinador.

sábado, 5 de abril de 2014

ENFRENTAR UMA BOA OBRA




A ideia de que a leitura é uma atividade importante para aquisição de conhecimento, possivelmente é unânime.  Ninguém discorda sobre os benefícios provenientes do ato de ler. No entanto, a mera concordância superficial com essa afirmativa pode ocultar uma maior profundidade sobre as possibilidades que a leitura envolve.
Quando alguém afirma os benefícios da leitura, são poucos os que interrogam: Por que é tão importante assim? Vale a pena ler tudo que foi escrito por aí?
Durante muito tempo pensei genericamente sobre leitura, lia apenas o que me parecia agradável, lia qualquer coisa que esbarrava em algum interesse momentâneo, e ao final concluía que estava aumentando meu conhecimento de alguma forma.
A minha ideia primária e fútil sobre leitura provavelmente ofenderia a inteligência de Mortimer Adler, que foi um dos maiores entusiastas do tema leitura dos clássicos. Nos Estados Unidos o seu livro, How to read a book foi um sucesso monumental de vendas, neste livro pretendia elevar o poder de leitura do povo americano, incentivando e ensinando como ler os livros clássicos. No Brasil, Olavo de Carvalho e José Monir Nasser empenharam esforço semelhante na tentativa de divulgar a leitura dos clássicos da literatura, desde a década de oitenta.
Então:
Por que devemos ler (os clássicos)? Primeiro, você aprimora a sua capacidade de leitura se enfrentar um boa obra; segundo, a longo prazo um bom livro traz ensinamentos sobre o mundo e sobre você mesmo. Isto quer dizer, você aprende ao mesmo tempo a ler melhor e aprende sobre a vida, adquirindo uma consciência mais apurada.
 Os bons livros, ou os clássicos, que são aqueles que foram cuidadosamente produzidos por seus autores, aqueles que transmitem ao leitor intuições importantes sobre assuntos de interesse duradouro para as pessoas por tratar de temas universais.  
Como começar? Diante da quantidade de livros que existe e não para de crescer, não é tarefa fácil escolher os que ampliam a inteligência. Adler facilita o nosso trabalho ao listar alguns destes livros, em “Como ler livros” destaca 137 clássicos, dentre estes:
1. Homero (século IX a.C)- Ilíada, Odisseia
2. Dante Alighieri ( 1265 – 1321)- Vida Nova, Sobre a Monarquia e A Divina Comédia
3. Miguel de Cervantes (1547-1616)Dom Quixote
4. Willian Shakespeare (1564-1616)Obras completas
5. Molière (1622-1773) Comédias: O Misantropo, Escola de Mulheres, O Doente Imaginário e Tartufo
6. Samuel Johnson (1709-1784) A vaidade dos desejos humanos
7. Charles Dickens (1812-1870) As aventuras do Sr. Pickwick, David Coperfield e Tempos difíceis
8. Herman Melville (1819-1891) Moby Dick
9. Fiódor Dostoiévski (1821-1881) Crime e Castigo, O idiota, Os irmãos Karamázov
10.    Leon Tolstói (1828-1910) Guerra e Paz
11.    Thomas Mann (1875-1955) A Montanha Mágica

12.    Franz Kafka (1883-1924) O Processo 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O QUE É DESESPERO? R: D = S - S


“Enquanto se busca a felicidade, faz-se dela uma meta jamais alcançada. Quanto mais almejada mais distante ela fica.”

Viktor Frankl (1905-1997) passou por uma das experiências humanas mais brutais da história do século XX. Durante a Segunda Guerra Mundial foi sobrevivente de Auschwitz, perdeu todos os seus familiares, só lhe restando a irmã. Após a guerra, Frankl desenvolveu muitos estudos sobre o sentido da vida. Escreveu em 1955, “Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração”. Na entrevista abaixo, explica com profundidade, alguns temas espinhosos:

2:25 – O que é desespero?
4:20 – Responde a pergunta: Por que comigo?!
5:35 – Existe escolha perante as situações?
6:36 – Um exemplo de sentido frente ao desespero.
10:20 – Explica a “pegadinha”: em busca da felicidade
11:56 – Sobre o que aprendeu em Auschwitz
15:42 – Sobre: a dor, a morte e a culpa
19:20 – Sobre as pessoas que sofrem mais que as outras
19:56 – O crescente vazio existencial no mundo
22:53 – É preciso sofrer para acha um sentido?
26:53 – O princípio adotado por Victor Frankl