“Foi no final do meu vigésimo segundo ano de
vida que, o desejo de me instruir chegou. Comecei a perceber como até mesmo
vagas noções me faltavam em mais de um ramo de conhecimento. Dominava um vasto
vocabulário e gostava das palavras e da sensação de vê-las alinhadas, caindo em
seus lugares como moedas num caça níquel. Mas notei que empregava grande número
de palavras das quais não poderia dar nenhuma definição precisa. Temia
servir-me de outras palavras que admirava, pelo receio de que parecessem
absurdas.
Certo dia, antes de deixar a
Inglaterra, ouvira um dos meus amigos declarar: 'O Evangelho de Cristo foi a
última palavra em ética'. Pareceu-me uma frase belíssima – mas que vinha a ser,
exatamente, essa palavra “ética”? Não me haviam falado nela em Harrow ou em
Sandhurst. A julgar pelo sentido, pensei que poderia significar, ao mesmo
tempo, “lealdade ao colégio”, “jogar o jogo”, “esprit de corps”, “conduta honorável”, “patriotismo” etc. Depois
alguém me ensinou que a ética não tratava apenas das regras de comportamento,
mas precisamente do porquê dessas regras; fiquei sabendo que obras inteiras
eram consagradas a essa palavra. Pagaria de boa vontade uma ou duas libras a
quem me pudesse fazer uma conferência de hora e meia sobre ética. A extensão do
seu sentido, seus principais ramos, as questões fundamentais de que se ocupava
e as controvérsias de que era objeto; quais as autoridades na matéria e os
livros mais conhecidos sobre o assunto. Mas, em Bangalore, ninguém poderia me
esclarecer sobre ética. Possuía certo conhecimento de tática, opiniões próprias
concernentes à política, porém, era impossível obter ali onde me encontrava
algumas ideias gerais e concisas sobre ética.
Este é um simples exemplo de
dúzia de necessidades intelectuais de que meu espírito começou a ressentir-se.”
Trecho do livro: Winston Churchill Minha Mocidade. ed.
Nova Fronteira. p. 121
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