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quinta-feira, 27 de março de 2014

O MÉTODO BELGA


 
Certa vez um conhecido me contou que quando estudava em um colégio de primeira linha da zona sul carioca, teve um professor de matemática que era um pouco diferente do habitual, de origem belga, era um conceituado engenheiro que estava no Brasil desenvolvendo algum projeto voltado para a construção civil.
Na sala de aula, o professor engenheiro, tinha o costume de, após explicar a matéria, lançar um problema matemático no quadro negro, e desafiar a todos. Não passava para outra questão até que aquela fosse devidamente resolvida. Solicitava aluno por aluno até encontrar alguém que pudesse responder corretamente, e isso poderia durar horas, até mais de uma aula se fosse necessário.
E para piora, o detalhe mais excêntrico é que este professor tinha o costume de não prostituir as palavra do dicionário, era do tipo de pessoa que não confundia “sim” com “não”. Algumas vezes chamava os alunos de ignorantes, quando estes respondiam alguma atrocidade referente a sua matéria. Falava então num sotaque caracteristicamente forte: “Os senhores são ignorrrântes!” O mestre, também tinha por costume, usar a expressão “senhores” no trato com os alunos.  
Um belo dia, eis que um dos líderes da classe, destes que fazem parte da “turma do fundão” (alunos que sentam nas últimas fileiras) resolveu reivindicar. O líder novato esgotado das humilhações lançadas pelo professor decidiu exigir mais respeito, e numa ação repentina, impensada, levantou da cadeira, estufou o peito, e exigiu atenção:
_ Prooo-feees-sor! Você não pode chamar a gente de ignorante!
A turma ficou surpreendida, todos se viraram para o novo líder, assustados, preocupados com a reivindicação.
O professor achou aquilo curiosíssimo, mas a sua fisionomia permaneceu inalterável, diante dessa interrupção abrupta esperou alguns segundos e perguntou com a voz mais calma do mundo:
_ Não posso?
E o líder novato, replicou firmemente:
_ Não!
O professor resolveu confirmar:
_ O senhor afirma que não posso lhe chamar de “ignorrânte”?!
_ Afirmo. Isto é um absurdo!
O professor com uma cara nunca vista antes, resolveu investigar os motivos não apresentados pelo aluno, pausadamente perguntou:
_ Mas por que o senhor diz que não posso lhe chamar de ignorrrânte?
_ Veja bem, professor nós somos do colégio tal - e bradou em alto em bom tom o nome do colégio – nós somos alunos da turma tal - e sublinhou que essa turma era destacada das outras, e que por isso exigia mais respeito no linguajar.
Diante dos argumentos, o professor ficou com aquele olhar fixo, distante.
_ O senhor está me dizendo que aqui é o melhor colégio?
_ Nosso colégio é o melhor da zona sul, professor!
_ E o senhor está me dizendo que essa é a melhor turma do melhor colégio da região?
_ Somos a melhor turma do colégio, melhores notas e fazemos parte da turma especial, esse linguajar é inapropriado.
Neste exato momento algo mudou, todos perceberam que a cara do professor não estava tão boa quanto antes. A ficha caiu, ele tinha concluído alguma coisa que não cheirava bem.
_ O senhor está me dizendo, e vejo que PARECE ACREDITAR VERDADEIRAMENTE no que diz. Mas o melhor COLÉGIO com a melhor TURMA é incapaz de resolver este probleminha que se encontra no quadro?

_ É professor mas...

O professor já tinha calculado tudo e encerrou, com aquela voz em tom de falsete, meio desafinada, que sai fina e termina grave:
_ MAS SENHOR IGNORRAA! PORTANTO O SENHÔÔR É UM IGGNORRRÂnteee

O sotaque do professor ficava mais engraçado quando aparentava estar indignado.A turma veio abaixo,muitas gargalhadas e aula terminou ali! 
Passado esse episódio, constatou-se que entre mortos e feridos, ninguém saiu traumatizado. O aluno protagonista ficou mais cuidadoso com as ideias e fatos que às vezes se misturavam estranhamente na sua cabeça.
Meses mais tarde, o professor disse para um aluno que havia resolvido no quadro um dos seus problemas, este em especial bem caprichado na dificuldade.
_É a primeira vez que vejo alguém resolver esse problema desta forma, mas a resposta está absolutamente certa. Na minha disciplina o senhor pode se considerar APROVADO!

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