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segunda-feira, 17 de março de 2014

A COGNIÇÃO E O PROTAGONISMO DO CELULAR

O hábito de dividir a atenção entre mil e uma tarefas simultaneamente pode diminuir a capacidade de percepção das coisas. É possível hoje sair na rua e observar que as pessoas estão constantemente conferindo algo na tela do celular.  Na rua, no restaurante, no transito, na sala de aula, sempre tem alguém de olho em alguma coisa no aparelho celular com um aparente desprezo para a circunstância ao redor.
No exemplo da sala de aula já ouvi ideias pró e contra o uso do aparelho celular. Já escutei de alguns professores que o celular ajuda na busca de informações adicionais, e isto até pode ser um elemento importante desde que a disciplina do aluno permita tratar o celular como algo realmente adicional, e não concorrente ou principal.
Se o aluno priorizar o celular, parece bastante óbvio o resultado. O professor vai ficar ali igualzinho uma televisão sem som, e o aluno mergulhado no Google, Facebook, Whatsapps dentre outros. É possível também que a aula do professor seja tão ruim que o aluno obrigado a estar ali presencialmente, opte conscientemente por desviar a atenção, mas isto é outro assunto.
Na circunstancia ideal, o aluno interessando no assunto explicado por um bom professor, tornaria o celular um aparelho esquecido durante aqueles preciosos minutos de explicação.
Supondo que estamos longe do ideal, e se imaginarmos que o aluno divide a sua atenção durante a aula, ele vai esbarrar no problema que já foi explicado por alguns psicólogos cognitivos.
No livro Controle cerebral e emocional, Narciso Irala explica que a função emissora e receptora não pode ser justaposta, ou seja, ou o sujeito é emissor ou receptor durante o momento de aprendizagem. Para exemplificar, emissão seria quando o aluno digita no celular, e recepção seria quando escuta o professor ou quando lê as mensagens do celular.
Além disso, o ato cognitivo requer uma atenção ideal que passa por padrões neuromusculares, ou seja, o sujeito precisa estar atento e relaxado ao mesmo tempo, e isto envolve a concentração visual, auditiva, e sinestésica voltadas para o objeto.
Dar atenção a alguma coisa significa recusar todas as outras que estão ao redor naquele momento. Veja esse exemplo de exercício proposto no livro: “para reeducar-se procure aplicar a vista, por uns dez ou vinte segundos, a uma paisagem, a um objeto, a um pormenor, com atenção tranquila e quase passiva, sem pressa, sem fixar o pensamento em outra coisa.”
Vinte segundos, olhando uma “paisagem”! Muitos não aguentariam sequer um segundo e meio parados. Mas com um pouquinho de boa vontade não é tão impossível assim.
Fica bem claro que concentração não é algo que achamos ali na esquina. E não é possível imaginar alguém querendo aprender realmente alguma coisa, desdenhando tanto desse elemento fundamental para o ato cognitivo. 

3 comentários:

  1. No Mundo globalizado é indiscutível dizer que não se pode mais simplesmente proibir os uso da tecnologia, temos que trazer para dentro de nossas escolas de forma crítica e consciente toda e qualquer ferramenta que dinamize as aulas. Na sociedade do conhecimento onde as informações de hoje podem vir a ser notícias velhas após alguns minutos, não cabe mais a escola apenas propagar conhecimento, deve sim gerar aprendizagem consciente, dando suporte para fazer o indivíduo querer e poder aprender sempre. (aprender a aprender).
    Não digo com isso que sou a favor da liberdade do uso do celular incondicionalmente, nem que como o conhecimento tem se tornado volátil ele se tornou obsoleto. Temos que fomentar a criticidade, sem ter medo de deixar de ser o único detentor do saber. O saber deve ser compartilhado, debatido e apresentado como algo prazeroso... Nem todos nascemos para os bancos da Universidade, porém todos nascemos para aprender e nos tornarmos cidadãos “aprendentes”.
    A concentração é algo imprescindível, mais somos seres plásticos e alguns de nós se adaptam bem, ao ouvir música, ler e produzir um texto, outros como eu necessitam de um pouco mais de disciplina.

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    1. É um mundo complexo, nada fácil esse volume de informação que você destacou. Sobre os bancos da Universidade, concordo também. Faz um tempinho eu tava lendo o Niall Ferguson ( historiador), e ele dizia que tinha a sensação de que os seus 3 filhos aprendiam hoje, menos história do que ele tinha aprendido. Ele diz alguns motivos como qualidade dos professores, qualidade do material (livros), e aí fiquei pensando na qualidade da atenção dos alunos de hoje. (Em geral)... O tema é complexo, não é mesmo?!

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  2. Muuuuuito complexo... Você levanta questões muito pertinentes... Por isso que gosto de te ler...Beijocas...

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