Uma das vaidades do Rei Dionísio era se considerar
poeta. Não perdia uma oportunidade de fazer versos. Tinha uma infinidade de
bajuladores que aplaudiam todos os seus versos.
Já um tanto cansado desses aplausos garantidos o Rei
decidiu chamar um filósofo chamado Filoxeno para assistir suas apresentações.
Filoxeno foi ao palácio, assistiu toda apresentação,
e Dionísio esperando todos os elogios que achava justo. Mas para surpresa geral
o filósofo afirmou que os versos eram horríveis e não mereciam ser chamados de
poesia, e muito menos o autor ser chamado de poeta. O Rei ficou fora de si
diante de tamanha sinceridade. E transtornado chamou os guardas e ordenou a
prisão do filósofo.
Foi uma comoção geral na cidade, os amigos de
Filoxeno ficaram indignados com o ocorrido e enviaram uma carta solicitando a
liberdade de filósofo.
Preocupado com a ira dos súditos ou talvez com
alguma outra intenção o fato é que o Rei concordou libertar o filosofo e
convocou um novo jantar.
Filoxeno foi. Ao fim do grande banquete, na presença
de todos os cortesãos, o rei se levantou e declamou novos versos que tinha
composto nos últimos tempos. Queria que o filósofo que só dizia a verdade
ouvisse pois achava os extremamente bons. Toda corte teceu muitos elogios.
Apenas Filoxeno permanecia em silêncio, sem dizer uma só palavra, sem nenhuma
expressão facial.
Isto não era exatamente o que Dionísio esperava.
Controlou a impaciência o quanto pode. Vendo que Filoxeno não se manifestava, o
tirano dirigiu-se a ele com pretensa calma e, achando que ele não ousaria
provocar novamente sua ira, perguntou:
_Diga-me, Filoxeno, sua opinião sobre este meu novo
poema.
De fato, ninguém esperava a resposta que ele deu.
Pois, dando as costas aos participantes do banquete, Filoxeno dirigiu-se aos
guardas e disse, em tom de repugnância:
_ Levem-me de volta ao calabouço!
Todos ficaram horrorizados com a declaração.
Apavorados aguardaram a decisão de Dionísio. Mas embora vaidoso o tirano
respeitou pela coragem moral e deixando os cortesãos trêmulos de medo,
voltou-se com um sorriso para o imperturbável Filoxeno e deu-lhe permissão para
ir em paz.
Trecho
adaptado do conto: O homem que dizia a verdade O livro das virtudes II O compasso
moral
Existem poucos "Filoxenos" em nossa sociedade, a grosso modo somos facilmente corrompidos por medo, comodidade e afins.
ResponderExcluir